Saída entre 1912-13, pertence ao lote de revistas claramente influenciadas pela A Águia e restantes revistas do norte. No primeiro Modernismo, é de notar a primazia do eixo Coimbra-Viana do Castelo para o surgimento de revistas literárias, de que esta gazeta é bom exemplo. Límia será um bom elemento de comparação, se virmos as suas capas e restantes elementos gráficos, muito inspirados na arte nova.
Esta revista subintitula-se "Gazeta de Sto. Tirso" e é editada em Vila Nova de Famalicão, pelo que, como assim indicado, alguns dos artigos serão indubitavelmente devotados a história local. Existe uma "Galeria dos Tirsenses ilustres" ou uma secção devotada à história da povoação ("Sto Tirso há trinta anos") e sempre bastante colaboração de tipos locais, como é o caso logo no primeiro número de Manoel dos Santos Marques, um cego e professor de braille, que numa nota ficamos a saber habitar a tipografia desta revista, e que assim publica um poema, com braille respectivo a acompanhar, alusivo à sua condição.
No que toca a colaboração literária, é de frisar, sem surpresa, a poesia de Afonso Duarte ou de João de Lebre e Lima, ilustres literatos do norte do país. Um dos colaboradores mais regulares aqui é igualmente Américo Pires de Lima, que será notável professor na Faculdade de Medicina, e depois de Ciências, do Porto, ainda estudante em 1910, e que depois se tornará um grande botânico.
De Júlio Brandão é ainda publicado um soneto inédito no terceiro número, de acordo com o tom bucólico da revista: "Moinhos". Ao lado deste poema, mais um exemplo de um artigo devotado ao local: um longo artigo de João de Meira, médico e historiador vimaranense, morto um ano depois de a revista acabar (1913), sobre as influências francesas e estrangeiras na obra de Eça de Queirós, natural também das proximidades (Póvoa de Varzim).
Saíram 7 números no total, sendo esse último devotado completamente à vila evocada no subtítulo. O seu director foi também um colaborador literário, ainda médico de profissão, anunciando o seu consultório médico nas páginas finais de cada número...
Ricardo Marques