Diz João Medina, no seu conhecido estudo sobre esta revista, que constitui igualmente um facsimile dos dois números: “A constituição, em 1923, do grupo Homens Livres, reunindo monárquicos do Integralismo Lusitano e republicanos da Seara Nova, constitui uma das maiores surpresas dos meandros ideológicos e políticos da I República. Em tudo opostos, os integralistas fiéis ao neomiguelismo e os seareiros de feição socializante, tinham porém um dominador comum: a idêntica recusa do statu quo institucional, o repúdio pelo demo-liberalismo, a recusa dum regime de balbúrdia, ‘plutocracia’ e ineficácia governativa.” (João Medina, O Pelicano e a Seara. Integralistas e Seareiros juntos na Revista Homens Livres, Lisboa, Edições António Ramos, 1978.)
A revista efémera é realmente uma junção de duas facções opostas de que essa efemeridade é aliás sinal. A alegada liberdade destes homens livres ("livres e seguros", consoante epígrafe camoniana do segundo número) resulta quase ineficiente e redundaria em fracasso. A sua liberdade inicia-se em encontros mantidos dentro da Biblioteca Nacional justamente ao longo desse ano (de lembrar que os dois números saíram a início de Dezembro), com personalidade provindas do chamado "Grupo da Biblioteca Nacional" já supracitado, mas também de antigos colaboradores d'"A Águia" e do Integralismo Lusitano (António Sardinha, Castelo Branco Chaves). Cronologicamente, devemos situar a revista a meio caminho entre a noite sangrenta de outubro de 1921 - que assustaria assim elites de diferentes quadrantes - e o golpe de 1926, que mudaria para sempre a face política do país.
Numa revista séria, sem publicidade, a parte literária desta revista é muito pouca. Por um lado, algumas palavras citadas de Antero, nos dois números (a grande referência moral para homens livres deste período) e de Almeida Garrett (uma breve citação); por outro, o mesmo em relação à parte artística, com parcas caricaturas copiadas de jornais, e uma tímida "Secção Artística" no segundo número, com o programa de inverno "pró-arte" da Associação de Artistas Portugueses.
Ricardo Marques