Revista publicada entre 1919 e 1920, apresentou três números com uma periodicidade mensal, sendo dirigida por Ernesto Gonçalves. É uma revista de índole conservadora e monárquica com raízes na Madeira, já que tanto Gonçalves como Cabral do Nascimento eram madeirenses, e co-fundaram a revista em Coimbra (com Alfredo Brochado, Américo Cortez Pinto e o também madeirense integralista Luís Vieira de Castro) no seu tempo de estudantes de Direito na Universidade daquela cidade. Não por isso de estranhar que se subintitule "Revista de Coimbra", sublinhando assim o orgulho na ligação àquela cidade, mas também vincando um sentimento nacionalista.
Assim como não é surpreendente o que nos diz Fernando Cabral Martins, a dado ponto, no seu verbete sobre a revista: " Havia uma secção intitulada “Os Modernos”, onde saiu, por exemplo, um retrato de Albert Samain por João Ameal que traduz uma atitude decadente pré-moderna («A sua arte foi, para ele, a redoma de cristal onde se isolou, como um inadaptável»), sinal da enorme extensão e ambiguidade que a palavra «moderno» continha." (cf. Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português, Caminho, 2008, actualizado neste site em 2017).
Sendo uma revista arrière-garde, de estética decadentista e saudosista (veja o artigo sobre o pré-rafaelita Dante Rossetti no segundo número, da autoria de Tristão Dias de Aguiar), tem um grafismo muito pobre e pouco arrojado, salientando-se apenas o enorme "I" do título, desenhado em capitular estilizada ao gosto medieval (bem como a capitular do incipit de todos os poemas). Literariamente, é uma das revistas que preparam a presença, nomeadamente pelo elenco de nomes que por ela passaram. O saudosista Teixeira de Pascoaes, Afonso Lopes Vieira e Eugénio de Castro são três dos seus colaboradores mais reconhecíveis, ao que devemos juntar os próprios co-fundadores.
O seu primeiro número apresenta no texto introdutório uma explicação da ligação ao mito de Ícaro do seu título: "Cantando em versos de uma académica suavidade, nós seguimos as suas máximas [do voo icárico] e o nosso desejo de revelar, de anunciar novas formas de Sonho e de Beleza, continua a antiga ânsia imperfeita e humana [...] dentro de nós erram as saudades de uma vida maior, esplêndida e heroica", para assim "ascender em Beleza, em Perfeição e Orgulho" pelo caminho da Arte.
Ricardo Marques