[BNP/E3, 143 – 10]
A Nova Literatura Portuguesa.
Defesa e justificação
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- O génio é inadaptação. Portanto nevrose. (Nevrose funda como, no campo dos fenómenos neurasténicos, a psiquiatria, incurável, não a neurastenia, curável.)
Diferença entre génio – que é inadaptação; grande inteligência, que é adaptação fácil e rápida a um grande número de coisas, e a quantas mais, tanto maior; e talento, adaptação organizada a um ou mais géneros de coisas. De aí o facto, de observação análoga, da pouca inteligência de muito homem de génio. |Inteligência e génio são antagónicos, no fundo e na origem.|
- Mas o génio não é simples inadaptação. Se assim for, não só todo o génio seria nevrose, o que – como vimos – é lógico[1]; mas toda a nevrose seria génio, o que é[2] absurdo.
Que espécie de inadaptação é o génio? Formulou-se já – com mais ou menos consciência – uma hipótese, no sentido de que o génio seria uma espécie de adaptação a coisas futuras; e assim se pronuncia, contra o termo de degenerados, ou de progenerados. Custa a crer que tal hipótese se pusesse. O que seja uma adaptação a uma coisa futura, isto é, a uma coisa que não existe – eis o que é cientificamente incompreensível; cientificamente, e abstractamente, e de todas as maneiras. Qual, cerebralmente, o processo, nervoso ou lógico, de tal adaptação?
[10v]
É quase impossível a um psiquiatra não ser um charlatão. As infelizes condições da sua ciência a tal o obrigam.
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O que nos interessa é as relações entre a psiquiatria e a literatura. Em geral, elas têm sido infelizes. têm sido de duas espécies. A primeira é a tese psiquiátrica da loucura, ou da nevrose, do génio. Nesta orientação, o livro melhor é o de Nisbet, e o mais célebre o de Lombroso. Assim tinha de ser. Em todos os tempos os charlatães obtiveram mais de pronto a atenção e o interesse das turbas. Seus métodos – de espalhafato e arrojo teórico – lhes garantem a tristeza de tal celebridade.
Falta-me a esquissa, historicista[3], a génese da teoria a que me refiro. Ela está em qualquer trabalho do género, em introdução. Como intuição, a hipótese de que génio e anormalidade mental são parentes ou vizinhos, é de maior antiguidade que a ciência; mas do génio, disse {…}. Na forma chamada científica data, clarividentemente, de uma frase de Moreau (de Tours). “O génio”, disse este, “é uma nevrose”. Sobre tal {…}, assim lançada se ergue a superestrutura da investigação moderna sobre o assunto. Disse já que o melhor livro é o de Nisbet, e que o mais célebre é o de Lombroso. Não há mister dizer mais. Nem é preciso mais, ou tanto, ao progresso de uma |análise|. Iremos directo|s| aos factos. Renovaremos a análise deles à luz do nosso raciocínio. Lograremos, quiçá, melhor compreensão deles que a luz fria dos psiquiatras.
[1] lógico /certo\
[2] é /seria\
[3] historicista/ando\